O tempo voa, mas a lembrança de certos acontecimentos segue lógica
inversa. Dois anos atrás perdi o meu ídolo, meu exemplo, meu amigo
mais compreensivo, meu pai.
Divergíamos muito, brigávamos outro tanto, mas nada que
comprometesse seriamente o respeito/estima/admiração/carinho/amor.
Deus sabe o quanto relutei para aceitar que o meu painho querido
desencarnou. Evitei escrever sobre isso, de maneira mais visceral e
direta, até o dia de hoje.
Entendo e aceito racionalmente que desencarnar faz parte da vida. É
rito de passagem para a Vida Real (espiritual). Mas a saudade e a
tristeza são fraquezas que me acompanham. A morte do corpo físico
de meu pai foi a coisa mais dolorosa que já enfrentei até hoje. Não
sou daqueles que abre o coração (e o verbo) com facilidade, mas não
falar (no caso, escrever) sobre, estava me consumindo.
Luiz Antonio Barreto, nascido em 10.02.1944, filho de Josefa Alves
Barreto e João Muniz Barreto, segundo de três filhos, pai de três
filhos, avô de cinco netos, foi um dos maiores intelectuais de sua
geração, pesquisador dedicado, folclorista da melhor estirpe,
historiador renomado, sociólogo reconhecido, jornalista estrelado,
dentre outras tantas coisas, seduzia a todos com sua verve e oratória
inconfundíveis. Dono de memória privilegiada, que somada a sua
inteligência descomunal, encantou os que tiveram o prazer de lhe
ouvir, fosse numa palestra, ou num papo informal.
Garoto prodígio, “adotado” profissionalmente pelo ilustre
jornalista Orlando Dantas, cresceu e apareceu, foi um homem brilhante, trilhou as
carreiras que quis, genial em suas áreas de atuação, além de ter
sido um ser humano muito generoso e que sabia como poucos compreender
o outro (a psicologia do outro, como ele dizia). Foi embora sem
aviso, sem despedidas e deixou órfãos todos nós que convivemos com
ele.
Pai, que você seja muito feliz em sua nova vida, que siga ajudando
nossos irmãos (filhos de Deus), como sempre fez, te amo painho.
Luscas (um dos modos como ele me chamava quando muito bem humorado)
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